O diagnóstico de câncer de mama do tipo triplo negativo abalou a vida da advogada Bianca Benedetti, de 40 anos, em março do ano passado. Mas aquilo que a deixou em choque, com a sensação de que podia ser uma “sentença de morte”, acabou alimentando sua esperança, com uma extensa rede de apoio de parentes e amigos, que se reuniam em sua casa e até no hospital, durante as sessões de quimioterapia. Ao lado da nutricionista Vanessa Almeida, de 43, amizade que nasceu durante o tratamento, a cidadã de Nilópolis pretende estender às mulheres de sua cidade, na Baixada Fluminense, esse carinho, em um encontro presencial, realizado no prédio da OAB na quarta-feira, dia 2 de agosto, às 14h30.
A ideia do evento, segundo Bianca, é oferecer um espaço para conversar, não necessariamente sobre a doença, e para que as mulheres se sintam “mais bonitas”, conforme observa a advogada. Além de música ao vivo, quem for ao encontro também contará com sessão de fotos e de maquiagem.
— A gente quer conversar para elevar a autoestima, trocar nossas experiências, levar nossa história para elas. Quero que saiam dali se sentindo lindas e com mais amigas — conta Bianca que, assim como Vanessa, já passou pela última sessão de quimioterapia e não tem mais células cancerígenas em seu corpo.
A atuação das amigas, que criaram o “Projeto Casa Florescer”, vai desde a criação de grupos do WhatsApp a visitas durante as sessões de quimio, quando levam flores e caixas de bombom às pacientes, que conhecem aleatoriamente. No entanto, a relação de Bianca ainda é muito próxima de mulheres que conheceu durante o tratamento, em um hospital da Barra da Tijuca, motivo para agora querer “devolver o bem” a quem está na cidade em que nasceu, cresceu e voltou a morar depois de iniciar o tratamento contra o câncer.
— Eu amava quando meus amigos faziam lanches, cafés e churrascos. A gente acaba dando valor à resenha dentro de casa. Mesmo assim, às vezes eu entrava no banheiro do meu quarto e chorava. Meu marido perguntava o porquê, e eu respondia: “Eu gosto tanto disso e meu maior medo é não estar mais com essas pessoas” — lembra Bianca, que também enxerga a necessidade de conviver com pessoas que vivem ou viveram a luta contra a mesma doença:
— O que eu e Vanessa percebemos é que a rede de apoio é fundamental. E, por mais que eu tivesse 50 pessoas ao meu redor, ninguém tinha passado por um câncer. (Ouvia) “Não fica triste, cabelo cresce”, mas eu tinha que ficar triste, porque isso dói. (Diziam) “Cabelo é o menor dos seus problemas”, mas é um problema. Só quem está passando por isso para entender essas dores.
O câncer de mama é o mais comum entre as mulheres em todo o Brasil, atrás apenas do câncer de pele não-melanoma, segundo o Ministério da Saúde. Mesmo raro, também acomete homens, representando menos de 1% do total da doença.
Em 2022, o Rio de Janeiro registrou quase 3 mil casos da doença, de acordo com a Secretaria estadual de Saúde e a previsão é que, entre 2023 e 2025, o estado seja o segundo do país com maior número de novos casos de câncer de mama: 10 mil, atrás apenas de São Paulo, onde a previsão é de 20 mil. Em todo o país, serão 73,6 mil novos casos, de acordo com a “Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil”, do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
'Amizade que o câncer me deu’
A presença de Bianca no hospital fazia barulho, literalmente. Com grupos de 6 a 8 pessoas a acompanhando durante as quimios, a última sessão contou até com uma carreata de 50 pessoas, com bolas enfeitando o carro e chamados para que, quem passasse pelo comboio, buzinasse em comemoração à vitória da paciente oncológica.
Mas no corredor do hospital, o número grande de acompanhantes gerou polêmica:
— Minha médica veio conversar comigo: “Está famosa no hospital”. A gente pensa logo no pior, já achei que era para estudar meu caso. Mas ela falou que eram as reclamações, só que foram ouvir os enfermeiros, que afirmaram que, ao mesmo tempo que eu era a pessoa que mais levava gente, era a pessoa mais feliz. Tirar as visitas era como se tivessem me matando.
Foi o mesmo alto astral que permitiu que Bianca se aproximasse de Vanessa. Durante as sessões de quimioterapia, as duas usavam toucas de crioterapia, que resfriam o couro cabeludo, para evitar a queda do cabelo. Separadas por uma cortina, a advogada decidiu abrir a cortina que as separava e começar a puxar assunto. As amigas brincam que, se forem escrever um livro, o título será: “Obrigada por não respeitar a cortina fechada”.
Presentes uma na vida da outra, elas assistiram ao fim dos tratamentos e até os passos depois da retirada da mama. O passo seguinte, já curadas, foi dado. Antes de iniciar os encontros com mulheres, já providenciaram tatuagens que marcam a vitória sobre o câncer.
Além do laço cor-de rosa, símbolo da luta contra o câncer de mama, e adaptações de versículos bíblicos que serviram como mantra, tatuaram ainda a frase “Continue a nadar”, referência à personagem Dori, da animação “Procurando Nemo”.
— A Dori sempre estava de bom humor, mesmo dando tudo errado e quando não sabia para onde estavam indo, ela seguia — explica Bianca, que conclui: — A Vanessa foi uma amizade que o câncer me deu.
O encontro com as mulheres de Nilópolis acontecerá na 24ª subseção da Ordem dos Advogados do Brasil, na Rua Tancredo Lopes 135. Para participar, basta se inscrever gratuitamente na página do Instagram (@projetocasaflorescer).
Via Extra
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
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