segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Beija-Flor escolhe nova rainha de bateria após duas décadas com Raíssa de Oliveira


NILÓPOLIS - Quando a Beija-Flor de Nilópolis anunciou que faria um concurso para substituir a rainha de bateria Raíssa de Oliveira, que esteve à frente dos ritmistas por duas décadas, protagonizando o mais longo reinado do carnaval carioca, o que parecia impossível ficou mais perto de virar realidade para muitas meninas que frequentam a escola: ocupar o mais cobiçado posto da folia. Dez finalistas já venceram a primeira etapa em busca da concorrida coroa, deixando para trás outras 14 concorrentes na seletiva inicial, que avaliou o samba no pé das moças.

— Toda passista sonha ser destaque, musa ou rainha. A gente se empenha para isso — diz Aieny Mendes, de 20 anos, que ingressou na escola aos 12 e, juntamente com outras nove meninas, busca a chance de colocar no peito a faixa de rainha de bateria.

O resultado sairá no próximo dia 13 de outubro, o que só aumenta a expectativa das candidatas. Entre as concorrentes, com idades de 15 a 40 anos, a maioria da Baixada Fluminense, estão estudantes, duas irmãs e uma professora da rede pública.

Para Lorrayne Lopes, de 21, e Lorena Raissa, de 15, a disputa é em família. Filhas de passista e netas de um compositor da escola, as irmãs sonham chegar à final e garantem que qualquer uma das duas que vencer terá o apoio da outra.

— Não vemos como uma disputa entre nós. Queremos chegar juntas à final. Fazemos campanha juntas. Que vença a melhor — afirma Lorrayne.

Num texto de apresentação que postou em sua rede social, Lorena conta que “estreou” na Beija-Flor na barriga da mãe, durante os ensaios técnicos do carnaval de 2007: “O ônibus que levava a comunidade de volta para a quadra teve de parar no hospital, com todo mundo dentro, para eu nascer. Imaginam isso?”, postou a jovem. A irmã dela, Lorrayne, foi aluna do projeto social da escola onde hoje atua como instrutora, “ensinando a arte de sambar”.

Moradora de Bangu, na Zona Oeste do Rio, a candidata Thaís Ferreira, de 32 anos, se divide entre o samba na quadra de Nilópolis e as aulas de Educação Física numa escola da rede municipal de ensino na Carobinha, em Campo Grande. Atuando paralelamente como passista show da escola, a também professora de samba já mostrou seu gingado por todo o Brasil e até no Japão. Sua meta agora é conquistar os jurados para ser consagrada rainha da Beija-Flor.

— Pelo fato de ser uma das mais velhas entre as candidatas, tenho consciência de que esta será a minha primeira e última chance. A Beija-Flor lança um concurso para mais uma vez exaltar a sua comunidade. O samba já me levou longe — elogia.

Outra candidata que vê no concurso a primeira e última oportunidade é Flávia Custódio, de 40 anos. Há 22 atuando como passista, ela sonha agora reinar diante da bateria.

—Para mim é um ato de desespero. Precisava sair da zona de conforto. Abracei essa chance com todas as forças — afirmou a moradora de Nova Iguaçu.

Raíssa de Oliveira samba com candidatas / Foto: Lucas Tavares

Raíssa de Oliveira é inspiração

Muitas das concorrentes se espelham na atual rainha, também escolhida por meio de um concurso. Roberta Gallego, de 22 anos, é uma delas. Tinha três anos de idade quando desfilou na escola pela primeira vez, antes mesmo de Raíssa ser coroada.

— Ainda não caiu a ficha de que estou entre as finalistas. É muito emoção representar uma escola que dá valor ao seu chão, à sua comunidade. A Beija-Flor é uma das poucas que fazem — destaca.

Thata Gávea, de apenas 15 anos, é outra que acalenta o sonho de ser rainha desde que entrou na escola, aos 8, assim como Lilith Teixeira e Rayele Melo, ambas de 16, e Melck Peixoto, de 20.

Não se sabe ainda quem ficará com o título, pois ainda restam mais quatro etapas. A única coisa certa é que o reinado da nova rainha será mais curto.

— A intenção da escola é a cada dez anos renovar a ocupante do posto, o que já é um marco — avisa o diretor de carnaval Dudu Azevedo, destacando que o cargo ganhou muito mais visibilidade desde quando Raíssa o assumiu, numa época em que as redes sociais ainda engatinhavam.

Adeus ao reinado, mas não à escola

Raíssa chamou a atenção da direção da escola em 2002, ao disputar com 13 passistas mirins das diversas agremiações do Grupo Especial o concurso “Pé no futuro”, promovido pelo RJTV, da TV Globo. Na época, ela tinha só 12 anos. Vinte anos depois, virou referência para outras meninas e agora cumpre a missão de ajudar a escolher sua substituta. Na primeira eliminatória, ela ocupou uma cadeira de jurada ao lado de outros integrantes da escola, como o intérprete Neguinho da Beija-Flor e o carnavalesco Alexandre Louzada.

— É um momento histórico para a Beija-Flor e para o carnaval carioca. Passa um filme na minha cabeça. Eu sei exatamente como elas estão se sentindo. Já estive no lugar delas e sei que é um momento de muita honra. Eu conquistei muita coisa sendo rainha de bateria. Costumo falar que a Beija-Flor é uma escola de vida. Aqui cresci e me formei. Tive muitos momentos prazerosos — valoriza Raíssa, que não pretende se afastar da escola após passar a faixa para a substituta: — Meu destino é aqui. Meu sangue é azul e branco. Vamos traçar outras histórias. Vai ser um novo ciclo para a nova rainha e para mim também.

Raissa disse que a decisão de deixar o posto depois do último desfile, em abril, foi em consenso com a agremiação.

Quadra da Beija-Flor ficou lotada para a eliminatória / Foto: Lucas Tavares

Via: Jornal Extra

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