quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Vacinação infantil avança a passos lentos na Baixada Fluminense


VACINAÇÃO - Enquanto na capital do estado, o percentual de crianças vacinadas entre 8 e 11 anos – idades contempladas pelo calendário da cidade - é de 39%, e é considerado insuficiente pelo secretário municipal de saúde do Rio, Daniel Soranz, em cidades da Baixada Fluminense que já atingiram todas as idades no calendário de vacinação infantil contra a covid-19, o percentual de crianças vacinadas não chega sequer a 20%. É o caso dos municípios de Itaguaí, onde apenas 9% do público entre 5 a 11 anos tomou a vacina, Japeri e Nilópolis, que têm apenas 16% das crianças dessa faixa etária vacinadas, e Mesquita, com 17%.

Três dessas quatro cidades, Itaguaí, Nilópolis e Japeri, estavam exigindo que pais assinassem um “termo de assentimento livre e esclarecido” autorizando a vacinação das crianças, contrariando nota técnica do Ministério da Saúde, que prevê a necessidade da autorização por escrito “em caso de ausência de pais ou responsáveis”. O documento também elencava “sintomas” da vacina pediátrica. O caso gerou reações da Defensoria Pública da União, da Defensoria Pública do Rio de Janeiro e do Ministério Público Estadual que recomendaram que as prefeituras parassem de exigir a assinatura do termo e adequasse os protocolos à recomendação do Ministério da Saúde sob o risco de dificultar a adesão à campanha de vacinação.

Mesmo sem atingir todas as idades do calendário vacinal, uma das cidades com as mais baixas taxas de crianças vacinadas na Baixada Fluminense é São João de Meriti. O município vacina, nesta quinta-feira, crianças a partir de 6 anos de idade, e completa as idades do calendário de vacinação infantil nesta sexta, alcançando os pequenos de 5 anos. No entanto, até o momento, apenas 7% das crianças de 5 a 11 anos compareceram aos postos de vacinação para se imunizar contra a Covid-19. De um universo estimado de 43.625 crianças nessa faixa etária pela prefeitura, apenas 3.147 foram vacinadas.

Em Nova Iguaçu, onde a estimativa é vacinar 68.084 crianças entre 5 a 11 anos, apenas 8.667 pessoas entre 9 e 11 anos tomaram a primeira dose do imunizante contra a Covid-19, o que corresponde a 12% do público-alvo da campanha. A cidade vacina nesta quinta-feira, crianças de 8 anos de idade. Na clínica da família Jardim da Viga na tarde desta quarta-feira, em Nova Iguaçu, a auxiliar administrativo Michele dos Santos Goulart, de 42 anos, levou a filha Manuela, de 10 anos, para se vacinar. A família estava ansiosa por esse momento.

— Ela estava querendo tomar e esperando a vez dela. A gente estava viajando, então tive que ir hoje. Estávamos ansiosos porque todo mundo lá em casa já tomou, só faltava ela — diz a mãe.

Michele dos Santos conta que conhece pessoas que estão recusando vacinar os filhos por “medo”.

— Tenho algumas amigas que não querem vacinar, dizem que estão com medo por serem crianças. Eu acho errado, sou a favor da vacina e tento conversar. Lá em casa tivemos covid antes e depois da vacina e foi uma diferença muito grande — diz Michele que tem outros filhos de 15 e 20 anos, todos vacinados.

No mesmo posto de saúde, a médica Ana Teresa Muri também levou a filha Luisa, de 8 anos, para tomar a primeira dose contra a Covid-19. Ela afirma que chegou a se sentir insegura em relação à vacina pediátrica por falta de informação.

— A expectativa era de tensão. Eu, como médica, já tomei as 3 doses, mas as informações sobre vacina infantil são discrepantes por causa dos efeitos adversos e reações exacerbadas. A gente fica inseguro, mas é necessário vacinar. Não tem outra alternativa — diz.

Já em Duque de Caxias, onde a campanha de vacinação chega às crianças de 7 anos de idade nesta quinta-feira, de 89.500 crianças esperadas para se vacinar entre 5 a 11 anos, apenas 13.364 tomaram a primeira dose da vacina contra Covid-19, o que corresponde a 14% do público-alvo. Em Queimados, a campanha de vacinação nesta quinta é para os meninos de 8 anos de idade, e para as meninas de 8 anos nesta sexta-feira. Na cidade, o percentual de crianças vacinadas entre o público-alvo da campanha é de 24%. Em Belford Roxo, onde a estimativa é vacinar 20 mil crianças, 6.475 doses do imunizante foram aplicadas em crianças de 9 a 11 anos, o que corresponde a 32% do total de crianças entre 5 a 11 anos de idade. O município vacina nesta quinta-feira, os pequenos de 8 anos de idade. As demais cidades da Baixada Fluminense não forneceram os dados sobre vacinação infantil.

Vacina pediátrica é segura

Para a pediatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabela Ballalai, a exigência de um termo de responsabilidade dos pais leva à desconfiança em relação à vacina:

— Nada tira a responsabilidade das autoridades públicas. Estamos falando de saúde coletiva, não uma recomendação individual. Solicitar que pais assinem um termo é uma estratégia que leva à falta de confiança, porque é claro que a população vai imaginar que tem alguma coisa que ela não sabe. O Ministério da Saúde e a Anvisa recomendam a vacinação. Consentimento assinado a gente faz em pesquisa médica, não quando a vacina está licenciada e recomendada, como é o caso — justifica a especialista.

Isabela Ballalai explica que a experiência dos Estados Unidos com a vacinação infantil reforça a segurança do imunizante da Pfizer.

— Das 4 milhões de doses aplicadas lá, foram cerca de 4.500 relatos de eventos adversos e 97% deles simples, sintomas leves como dor no braço, febre ou dor de cabeça. Tem até menos reações nas crianças que nos adultos — afirma.

Em caso de qualquer sintoma desses, um analgésico simples pode ser recomendado. Ela lembra que a vacina Coronavac, que passou a incluir a campanha e é recomendada para crianças de 6 a 11 anos de idade, só não é recomendada para um público maior por falta de dados.

— É uma vacina com eficácia boa, como a da Pfizer. Está contraindicada em crianças que sejam imunodeprimidas, não porque tenha informação de perigo para esse grupo, mas simplesmente porque não tem dados suficientes que tenham permitido que a Anvisa aprove ainda. No Chile, ela é aplicada em crianças a partir de 3 anos de idade — afirma.

O pediatra Renato Kfouri esclarece os riscos de exposição das crianças à Covid-19 e a segurança do imunizante:

— É a doença que mais mata crianças hoje prevenível por vacina, mais que meningite, mais que catapora. A gente tem razões de sobra para vacinar as crianças. A vacina é extremamente segura, o mesmo rigor que tivemos para licenciar para todas as idades tivemos para as crianças também.

Segundo o médico, os riscos da Covid-19 em crianças incluem internações, hospitalizações, sequelas, “covid longa”, que é o prolongamento dos sintomas a longo prazo, e complicações.

— São todas justificativas que levam à vacinação. A gente não vacina só para prevenir morte — afirma o especialista.

Via: Jornal Extra

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