quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Menino, autodidata aos 5 anos de idade, sonha em ser ritmista da Beija-Flor


Miguel é fascinado por samba e aprendeu a tocar sozinho, em vídeos na internet. Mãe diz que ele usa baldes e panelas como repique e caixa. 'Queria desfilar na Beija-Flor', diz o pequeno ritmista.

NILÓPOLIS - Dinastia Beija-Flor. Nada define melhor o destino de Jorge Miguel Santos de Oliveira, de 5 anos, do que a frase do refrão do samba-enredo da escola para o carnaval de 2022.

Desde que o vídeo do menino batucando no seu notebook de brinquedo chegou às redes sociais (assista acima), ficou claro que o futuro de Miguel – da mais nova geração de uma família de sambistas – é a bateria de uma escola.

No vídeo, Miguel faz do brinquedo uma caixa de guerra. Com ritmo impressionante – para alguém tão jovem e que nunca aprendeu formalmente um instrumento – batuca o refrão do samba: "Mocambo de crioulo: sou eu! sou eu!/ Tenho a raça que a mordaça não calou/ Ergui o meu castelo dos pilares de cabana/ Dinastia Beija-Flor!".

O vídeo postado pela mãe no grupo da família caiu na rede social e, no primeiro dia, o posts já somava mais de 30 mil visualizações.

A família de sambistas, segundo a mãe Larissa Santos da Silva, não tem sequer um ritmista. O talento é de Miguel e as "aulas" ele teve vendo vídeos na internet.
"Isso é um dom dele mesmo. Na família não tem nenhum ritmista. É verdade que ele frequenta escola de samba desde que estava na minha. Mas o talento para tocar um instrumento, é dele, ninguém ensinou. Ele mesmo procura no Youtube vídeos para aprender a tocar. Quando levo ele para os ensaios na Beija-Flor, ele corre para a frente da bateria e fica lá de olho em tudo, quer entrar no meio dos ritmistas, fascinado", contou Larissa.
 O batuque de Miguel, de 5 anos, num brinquedo: habilidade natural aprendida com vídeos que
ele mesmo buscou na internet / Foto: Arquivo Pessoal

Como ainda não tem idade, só em 2023 Miguel vai ingressar na oficina de percussão da Beija-Flor e realizar seu sonho: desfilar. De preferência, numa bateria.
"Eu queria desfilar na Beija-Flor. Tocando repique, caixa e tamborim, tudo", disse talentoso Miguel, que até lá já poderá treinar em instrumentos de verdade.
Instrumento doado

Miguel encantou gente bamba, de várias escolas de samba, como o intérprete Zé Paulo Sierra (Viradouro), mestre Dudu (Mocidade), a porta-bandeira Selminha Sorriso (Beija-Flor) e até um site de humor carnavalesco.

Juntos, criaram uma vaquinha e arrecadaram doações para presentear o menino com instrumentos de verdade: repique, caixa de guerra e tamborim.

"Fiquei impressionado, quando vi o vídeo, com aquela crianças batucando num brinquedo, me emocionou. Hoje, vivemos onde a desgraça é o que vende. Apesar de ser uma criança de origem humilde, o que está sendo entregue é amor, alegria, samba e pureza. Isso mexe com o coração de um ser humano, em especial de um sambista", disse Zé Paulo Sierra.

Samba na família

Apesar de não ter ritmistas na família, a paixão pelo samba atravessa gerações. O bisavô, Lourival dos Santos, é integrante da Velha Guarda da Portela.

A bisavó desfilou por mais de 20 anos na Beija-Flor. Passos que foram seguidos por sua avó – já falecida – e pela mãe, que há dez anos se apresenta em ala coreografada da escola de Nilópolis.

O pai, Wallace Oliveira, desfilou por anos na Mocidade Independente e este ano assumiu a direção de carnaval da Unidos da Ponte.

E a dinastia segue com a irmã mais velha de Miguel, Manuella Vitória, de 8 anos, que reina como porta-bandeira mirim da Colibri de Mesquita, desfila na ala das crianças da Beija-Flor e é passista mirim da Leão de Nova Iguaçu.

Miguel, no meio da bateria de um bloco, em Ricardo de Albuquerque, 
em 2020, com um repique  — Foto: Arquivo Pessoal

A mãe, que não cansa de fazer vídeos dos filhos, em 2020 gravou o menino durante um ensaio de um bloco em Ricardo de Albuquerque. E lá está Miguel, no meio dos adultos, tocando um repique quase do tamanho dele. Concentrado, sem perder a cadência.

Levado e esperto, tudo o que vê pela frente, Miguel transforma em instrumento. Em casa, além do brinquedo que usa como caixa de guerra, ele toca baldes como repique e uma frigideira velha como tamborim ou caixa de guerra.

Recentemente, pediu para a mãe encher uma garrafa plástica com pedrinhas para fazer um chocalho. Mas, segundo Larissa, esse "instrumento" ele ainda não domina.

Desde o ano passado, Miguel participa do projeto social da porta-bandeira Selminha Sorriso, onde tem aulas de dança como mestre-sala.
"Ele também gosta de sambar e dançar funk. Mas se tiver um samba, um pagode, ele prefere. O que ele gosta mesmo é de tocar. E aí, só batuca e canta samba o dia inteiro. Ele gosta de tocar, de fazer barulho", diverte-se Larissa.
Miguel, concentrado, com um repique, acompanha o ensaio de 
canto da ala da mãe Larissa — Foto: Arquivo Pessoal

Via: G1

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