sexta-feira, 18 de junho de 2021

Iniciativas em Nilópolis incentivam distribuição gratuita de máscaras PFF-2 em todo o país


NILÓPOLIS - Foi caminhando pelo Centro de Nilópolis, na Baixada Fluminense, que o designer Leonardo de Morais Soares, de 32 anos, percebeu que poucas pessoas usavam máscaras de proteção contra a Covid-19, ou, quando usavam, eram das menos adequadas. Assim, com poucos recursos e com o dinheiro do próprio bolso, surgiu a ideia de distribuir gratuitamente à população máscaras mais eficazes, como as do modelo PFF-2, hoje no topo da lista das mais recomendadas para contenção do vírus.

Paralelamente, o casal Adson Santos e Luisa Serrano, moradores de Belford Roxo, também na Baixada, teve uma ideia semelhante: os dois abriram uma pequena loja na cidade para a venda de máscaras PFF-2, após observarem a escassez do produto na região, além da notável falta de informações sobre o modelo por grande parte da população.

As duas ideias se encontraram há pouco mais de um mês e uniram forças com a criação da plataforma online “Onde Tem Máscara”, tocada pelo casal, por Leonardo e a amiga Nathalia Rossi. O site concentra dados sobre várias iniciativas semelhantes de distribuição gratuita, doações e de disseminação de conteúdo informativo para a população. A plataforma, segundo Leonardo, contabilizou mais de 4.000 visitas no último mês e já tem cadastradas mais de 30 campanhas do tipo em outros pontos do país.

— Com o site, é possível dar visibilidade a esses projetos informando como as pessoas podem colaborar, incentivar a criação de novas iniciativas e o apoio de outras lojas, além e apontar um local de distribuição gratuito mais próximo — explica Luisa.

A docente pós-graduada em Literatura pela UFRJ também explica que o intuito principal da plataforma não é apenas listar onde existem outras campanhas de distribuição de máscaras pelo país, mas também cumprir um papel social.

— Achamos que é imprescindível combater a desinformação com ciência e que um dos maiores componentes dessas ações é o diálogo que é oferecido junto com as máscaras — diz Luisa. — O que a gente faz é ajudar isso tudo acontecer, pois nunca quisemos ser apenas uma lojinha.

Recentemente, o grupo conseguiu articular a compra de 1.500 unidades de máscaras a serem distribuídas na Baixada, fruto das doações coletadas através do site. A ação vai acontecer no dia 26 de junho.

Embora iniciativas do tipo sejam bem-vindas, para Leonardo, contudo, elas não são suficientes para conter o avanço da pandemia, sendo necessário que o poder público também faça a sua parte. A quantidade de máscaras que eles conseguem distribuir, segundo ele, "mal enchem um trem no horário do rush".

— A gente busca, de alguma forma, realizar ações para mitigar o risco que a falta de políticas de distanciamento nos impõe, como uma espécie de redução de danos — diz o designer. — Mas ainda falta muito. Tem algumas iniciativas pontuais, alguns legisladores que estão tentando fazer algo também. A máscara ficou politizada e a gente sabe o porquê. Se não fosse a ação dessas pessoas, seria ainda pior. A gente precisa de muito mais.

Na última terça-feira, a Câmara do Rio derrubou um veto ao projeto de lei proposto pela vereadora Tainá de Paula (PT-RJ), que determina que seja obrigatório o uso de máscara do tipo PFF-2 ou cirúrgica em repartições públicas municipais. O projeto também prevê que o município forneça o equipamento gratuitamente aos seus servidores.

Alta procura por mais proteção

Comprovadamente mais eficazes para barrar a entrada do Sars-Cov-2 por vias respiratórias, a procura por máscaras PFF-2 tem aumentado recentemente. Maiara Costa é atendente de caixa em uma farmácia de Copacabana, na Zona Sul, e diz ter percebido que mais clientes têm buscado o produto nos últimos meses.

— A procura é alta, sim. O estoque acaba rápido e algumas pessoas já perguntam quando vamos repor o produto, se tem como avisá-las quando vão chegar e muitas já têm até preferência por marcas específicas — conta Maiara.

A nomenclatura PFF-2 (sigla para Peça Facial Filtrante) é utilizada no padrão brasileiro e europeu, mas o modelo corresponde ao N95, padrão dos Estados Unidos. Tais máscaras são as mais recomendados por especialistas atualmente, sobretudo pela alta capacidade de filtragem de partículas do ar, que pode chegar a 95%, segundo o pesquisador em saúde pública da Fiocruz, Harrison Magdinier Gomes.

O pesquisador explica que esses modelos são mais eficientes porque não retêm apenas gotículas, mas também partículas aerossóis, que conseguem atravessar os poros por serem muito pequenas e ficarem mais tempo suspensas no ar. As máscaras desse tipo contêm uma manta energizada na composição, permitindo que essas partículas fiquem retidas nas fibras.

Porém, para o uso eficaz da PFF-2, é preciso prestar atenção, como recomenda Magdinier:

— Elas precisam estar muito bem ajustadas ao rosto. Precisam estar muito bem vedadas para garantir que todo o ar que você inspira e expira passe através dessa manta protetora — explica o pesquisador. — Assim, ela protege não só você de uma infecção, como protege a pessoa que está próxima de você.

Resistentes e com boa durabilidade, esse tipo de máscara, apesar de ser descartável, pode ser reutilizado, contanto que se sigam algumas regras de utilização. Segundo Magdinier, é preciso que se observe o estado da máscara para poder usá-la novamente sem que a vedação esteja comprometida de alguma forma.

— Você pode estabelecer um padrão de utilização. Você vai usar essa máscara enquanto ela estiver íntegra, enquanto o elástico estiver se ajustando adequadamente na cabeça e pescoço, enquanto estiver mantendo a pressão correta, não estiver furada ou com mal cheiro — explica. — É recomendado também fazer um rodízio de máscaras, pensando na durabilidade das partículas virais na superfície do produto.

O especialista aponta, no entanto, que, ainda que a oferta tenha aumentado e campanhas de distribuição estejam se multiplicando pelo país, há quem não tenha acesso fácil a esse tipo de proteção, tendo que recorrer às máscaras artesanais. Quando surgiram no início da pandemia, em 2020, as máscaras de tecido eram uma solução viável para contornar a escassez de máscaras PFF-2 no mercado, mas ainda podem ser usadas na falta de um produto melhor.

— Na impossibilidade de se ter uma máscara PFF-2, se usada adequadamente, cobrindo nariz, boca e protegendo o queixo, ela também tem uma capacidade de proteção — explica o pesquisador. — A utilização da máscara é uma preocupação com o próximo. Se todos estiverem usando corretamente a máscara, a gente aumenta a capacidade de proteção.

Via: Jornal Extra

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