quinta-feira, 1 de abril de 2021

Especialistas em segurança digital alertam para golpes em transferências pelo Whatsapp


RIO / BAIXADA - Na última terça-feira (30), o Banco Central do Brasil aprovou o Facebook como um “iniciador de pagamentos”, permitindo que sejam realizadas transferências bancárias pelo WhatsApp, através da Visa ou da MasterCard. A novidade que pode facilitar a vida de muitos comerciantes também pode trazer riscos tanto para os negócios, quanto para os clientes.

O líder em inteligência de ameaças da Axur, Eduardo Schultze, avalia que, ao tentar facilitar e baratear as transferências, o BC também abre portas para a aplicação de novos golpes através do aplicativo de mensagens:

— Sem dúvidas, é uma facilidade porque o Whatsapp hoje é também uma ferramenta de negócios para pequenos comerciantes. Mas, tudo que facilita a nossa vida, também facilita a dos bandidos. E o ponto negativo é que, ao não precisar passar por um aplicativo de banco para concluir a transação, você perde a rastreabilidade. Assim, vai ser muito mais difícil recuperar esse dinheiro.

Embora não tenha ficado claro como o novo sistema irá funcionar, Schultze sugere que, após clonar o Whatsapp da vítima, o criminoso poderá pedir empréstimos para amigos dela e depois, ao receber os valores, transferí-los para uma conta de seu domínio.

Na opinião do diretor do laboratório de cibersegurança da PSafe, Emilio Simoni, para efetuar fraudes financeiras, além de clonar o WhatsApp da vítima, o criminoso precisa estar de posse do código PIN cadastrado para realização de pagamentos.

— É através de um primeiro contato com a possível vítima, que os cibercriminosos utilizam engenharia social para convencê-la a passar seu código PIN, com o qual pode obter acesso a um WhatsApp indevidamente. Depois disso, os golpistas iniciam conversas com os contatos se passando pelo dono da conta e, mais uma vez utilizando a engenharia social, tentam convencê-los a realizar transferências e pagamentos de contas, por exemplo — explica Simoni.

De acordo com a Psafe, mais de 5 milhões de brasileiros tiveram seus números de WhatsApp clonados no ano passado. Para evitar o problema, é indicado ter uma solução de segurança instalada no celular capaz de identificar tentativas de acesso; não passar informações pessoais e nenhum código enviado para o telefone para terceiros; não deixar o aparelho desbloqueado perto de desconhecidos; além de ativar a autenticação em dois fatores, através da qual é possível criar uma senha que funciona como camada extra de segurança para a conta.

Com essa autenticação em duas etapas, mesmo que a pessoa caia em um golpe e forneça o código de acesso ao seu Whatsapp, o bandido não conseguirá conectar o aplicativo em outro aparelho porque será pedida a senha adicional.

O especialista em cibersegurança da Axur, Thiago Bordini, ainda aconselha a desconfiar sempre que um amigo solicitar ajuda para pagar alguma fatura, boleto, ou pedir dinheiro por transferência.

— Só faça transferências para quem você conheça e esteja negociando um bem ou serviço. Na dúvida, ligue para o seu contato e pergunte se ele mesmo foi quem mandou a mensagem — sugere.

Quem vai se responsabilizar?

Embora essa nova forma de transferência tenha sido autorizada pelo BC, o advogado do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Igor Marchetti avalia que é um sistema frágil para os consumidores. Segundo ele, no caso de transferências equivocadas, caberá o questionamento para a instituição financeira se a responsabilidade foi decorrente da má prestação de serviço. As empresas de cartão de crédito também podem ser acionadas.

Se uma transação entre um pequeno empreendedor e seu cliente por interceptada, o lojista poderá pedir a apresentação do comprovante de pagamento feito pelo consumidor. Apesar disso, a advogada especialista em direito do consumidor, Dra. Cátia Vita, destaca que ambos são vítimas.

— Verificado a ocorrência de um golpe, deve-se imediatamente relatar o acontecido ao banco intermediário, à plataforma responsável, no caso o Whatsapp, às bandeiras autorizadas e demais empresas responsáveis pelo funcionamento do serviço, solicitando a resolução e o reembolso do dano material sofrido — orienta Cátia: — Além de imediatamente comunicar as empresas, é importante o registro de ocorrência na delegacia por se tratar de um crime.

Via: Jornal Extra

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