sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

MP investiga se funcionários da Alerj ligados a políticos de Nilópolis são 'fantasmas'


O Ministério Público do RJ investiga pessoas que possuem ligações com as famílias David e Sessim, atuantes na política no município da Baixada Fluminense. Nenhum dos funcionários foi encontrado na Assembleia Legislativa do Rio.

RIO / NILÓPOLIS - O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) investiga a situação de funcionários da Assembleia Legislativa do Estado (Alerj), suspeitos de serem 'fantasmas' - trabalhadores que recebem salários sem frequentarem o local de trabalho.

Todos os investigados são ligados a políticos de Nilópolis, município da Baixada Fluminense. Eles são membros das famílias David e Sessim.

Entre os nomes mais conhecidos dessas famílias estão o atual prefeito de Nilópolis, Abraão David Neto, o Abrãozinho, e do ex-deputado federal Simão Sessim.

Os suspeitos são funcionários efetivos da Alerj, contratados antes da Constituição de 1988 e, por tanto, sem a necessidade de concurso público. São eles:
  • Adriana Martins David, filha do ex-prefeito de Nilópolis e ex-deputado estadual, Farid Abraão David;
  • Flavia Martins David Moraes, filha do ex-prefeito de Nilópolis e ex-deputado estadual, Farid Abraão David;
  • Simone Sessim Moraes Prado, parente do ex-deputado federal Simão Sessim;
  • Marcelo Sampaio, filho de Simão Sessim;
As irmãs Adriana e Flávia David também são filhas da ex-vice-prefeita do município, Jane David, e sobrinhas do contraventor Anísio Abraão David, presidente de honra da Escola de Samba Beija-Flor. Elas são primas do atual prefeito, Abraãozinho.

As duas estão empregadas no departamento médico da assembleia, com salários de R$ 19 mil e R$ 11 mil, respectivamente, fora os auxílios alimentação e escola.

Adriana e Flávia não foram encontradas pela equipe do RJ2 na Alerj.

As duas também são sócias em uma empresa na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, onde também não foram encontradas.

Salário de R$ 30 mil

Outra suspeita de ser funcionária fantasma na Alerj é a dentista Simone Sessim, lotada no departamento odontológico da assembleia, onde já ocupou o cargo de diretora.

No local, nenhuma das colegas de trabalho soube informar quando ela poderia ser encontrada.

Simone ganha por mês R$ 20,7 mil, um salário líquido maior do que dos deputados estaduais. No último mês, ela recebeu quase R$ 30 mil por conta do valor referente às férias.

A reportagem do RJ2 também procurou Simone em uma loja de eletrônicos da família, no Centro do Rio, mas ela não foi localizada.

Os nomes mais conhecidos da família Sessim são Simão, Jorge e Sérgio, todos ex-prefeitos de Nilópolis.

Simão Sessim, inclusive, já foi deputado federal pelo Rio por dez mandatos.

Atualmente ele é subsecretário da Secretaria Especial da Representação do Governo do Estado do Rio de janeiro em Brasília.

Simão é primo do contraventor Anísio Abraão.

O filho de Simão Sessim, Marcelo Sampaio, também tem um cargo na Alerj. Ele trabalha no gabinete do deputado estadual Dionísio Lins (Progressistas).

Marcelo, que é otorrinolaringologista, tem duas clínicas em seu nome na Baixada Fluminense, em Nova Iguaçu e em Nilópolis.

Ele também não foi encontrado nesses locais.

Deputado nega fantasma

O deputado Dionísio Lins, responsável por controlar a frequência dos funcionários de seu gabinete, também não soube informar qual a função de Marcelo no parlamento fluminense.
"Ele é funcionário de carreira, ta lotado no gabinete pra auxiliar, mas a função eu não sei. No meu gabinete não tem fantasma", disse Dionísio.
Investigação

O MP pediu à Alerj a folha de ponto de todos esses servidores, além do histórico funcional e dos contracheques, entre os anos de 2016 e 2020. A investigação apura se esses funcionários trabalham de fato.

Outras investigações do Ministério Público apontam para a falta de concursos na Assembleia Legislativa. O último concurso ocorreu em 2017. Na ocasião foram 40 vagas ofertadas. Antes disso, a última prova aconteceu em 1998.

O que dizem os envolvidos

Em nota, a Alerj afirmou que todos os servidores citados trabalham e têm mais de 25 anos de casa. Segundo eles, desde o início da pandemia da Covid-19, a assembleia funciona em esquema de rodízio.

Eles disseram ainda que todas as folhas de ponto são assinadas pelos funcionários e chanceladas por chefes de departamentos, gabinetes ou deputados. São eles que devem controlar a frequência dos funcionários.

Via: G1

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