Devidamente protegidas, Raíssa e Selminha vibraram com o tema da Azul e Branco de Nilópolis.
Foto: Brenno Carvalho.
BAIXADA - Ainda não se sabe quando e como será o Carnaval 2021, sobre o qual paira um desfile de incertezas por causa da pandemia do coronavírus. Mas uma coisa é certa: a discussão sobre o racismo vai entrar na Marquês de Sapucaí. As duas maiores escolas de samba da Baixada Fluminense apresentaram enredos que abordam a negritude.
Quarta colocada neste ano, a Beija-Flor de Nilópolis vai falar sobre a contribuição intelectual negra para a sociedade com o enredo ‘‘Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor’’. A Acadêmicos do Grande Rio, de Duque de Caxias, vai homenagear o orixá Exu com ‘‘Fala, Majeté! Sete chaves de Exu’’.
Os enredos foram divulgados no momento em que o racismo está no centro dos debates. Uma série de protestos eclodiu após os assassinatos de George Floyd, asfixiado por um policial branco em Minnesota (EUA), e do estudante João Pedro Mattos, de 14 anos, baleado numa ação policial em São Gonçalo.
Na apresentação da sinopse, a Beija-Flor cita obras de autores negros como a antropóloga Lélia Gonzalez, o ator, escritor e dramaturgo Abdias do Nascimento e o filósofo francês Frantz Fanon. Num vídeo em seu perfil no Instagram, a escola ressalta o seu compromisso com temas como o sistema de cotas, a Lei. 11.645, que torna obrigatório o ensino de cultura afro-brasileira e indígena nas escolas, e seu posicionamento contrário à discriminação.
A porta-bandeira Selminha Sorriso, que participou do vídeo, vibrou com o enredo. No próximo carnaval, ela completa 30 anos de parceria com o mestre-sala Claudinho:
— Esse enredo mostra a valorização do negro, a contribuição que demos à humanidade ao longo de milhares de anos, e sem perder nossa identidade. Estou feliz.
A rainha de bateria Raissa de Oliveira destacou a tradição da escola de abordar a temática racial nos desfiles:
— Falar de negritude em um momento tão delicado como esse que estamos vivendo é um ato de bravura. A Beija-Flor se sente bem falando de temas africanos, de negritude, de raça, porque somos de maioria negra.
Grande Rio vai levar Exu para Avenida
Um dos carnavalescos da Grande Rio, Leonardo Bora contou que o enredo sobre Exu já estava sendo pensado quando ele e Gabriel Haddad finalizavam o tema deste ano, sobre Joãozinho da Gomeia, mas ressalta a importância de participar do debate:
— Não foi um enredo motivado por isso (os protestos contra o racismo), mas isso desencadeou uma série de discussões ligadas às pautas antirracistas, e está no seio da sociedade. Não é enredo panfletário, não toca diretamente nessas questões, mas elas aparecem como apareceram no Joãozinho da Gomeia, que propunha reflexões sobre racismo religioso, intolerância, homofobia. A arte é uma ferramenta poderosa contra todas as formas de racismo: estrutural, epistêmico, religioso.
Leonardo Bora e Gabriel Haddad: os ‘‘magos’’ da Tricolor de Caxias.
Foto: Marcelo Theobald / 13.02.2020
Divindade do candomblé, Exu é o orixá do movimento, da comunicação, o mensageiro. Mas o racismo religioso faz com que seja associado, por algumas pessoas e religiões, ao diabo. "Fala, Majeté!" é uma referência à saudação que Estamira, personagem-título do documentário de Marcos Prado, faz a Exu, em determinado momento do filme. No próximo carnaval, Leonardo e Gabriel querem apresentar as diferentes interpretações de Exu:
— A ideia é lançar um enredo que evoque celebrar as múltiplas potências de Exu. O título fala em sete chaves porque são sete interpretações que a gente pretende apresentar, sete formas de se vivenciar e compreender essa energia. É uma leitura poética sobre essa energia múltipla de Exu, para que a gente reflita e se emocione com essa energia tão poderosa que instaura a alegria, a troca, a comunicação e se faz presente de tantas formas na nossa vida cotidiana.
Via: Jornal Extra
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